Vieram céleres os Reis,
estugado passo, caminhada.
Desertos, por desertos cruéis,
trouxeram mirra,ouro, incenso…
E o Menino, despojo imenso:
” Mas se eu não pedi nada?!”
O povo chegou aos magotes
ajoelhando na entrada,
num clamor suplicou dotes,
proventos, vida afortunada.
Agradeceu humilde o Menino
tal esforço peregrino:
” Mas se eu não pedi nada?!”
Pérolas levava Artabano,
ofertou-as na encruzilhada
da dor e do choro humano,
perdeu Belém na estrada.
Amou-o ainda mais o Menino,
magnifico no seu poder divino:
“Mas se eu não pedi nada?!”
Plácido o Menino adormece.
Na sua quietude abençoada
há mais do que desejo, há prece
de paz, justiça, lua, alvorada.
Nada do que é terreno
lhe perturba o sono sereno:
” Mas se eu não pedi nada?!”
Se esta cena sagrada
não fosse fresco ou retábulo
e fosse banda desenhada,
o Menino no estábulo
elevaria acima de si um balão
da mais pura meditação:
” Mas se eu não pedi nada?!”
Professora Isabel Costa
Amarante, 21 de dezembro de 2023