O Natal não nos basta. As filhós e os filhos, o leite- creme e as cremações, a aletria e as letras vazias, os sonhos em calda no caldo sem sonho, o bacalhau com todos sem todos.
 

O Natal não pode ser parco nem perda. Tem de acordar de manhã bem cedo para nos dar tempo, para nos calar o bocejo, para nos despertar os sentidos e o sentido de termos, repetidamente, nascido meninos a cada madrugada.

 

Urge dividir o Natal em parcelas, ao longo dos dias, como nozes partidas e passas nas nossas mãos peregrinas. Pode-se dilatar a festa até que o coração enfarte em todas as mesas fartas, todos os panos de linho e todas as linhas cumpridas.

Lá fora há cânticos e uma música que nos une se o nosso ouvido atentar às preces, se os nossos olhos avistarem os silêncios e as solidões que sabemos certas.

O Natal não nos basta se nos bastarmos a nós. Não nos serve se nos servirmos, não nos alegra se não nos legarmos como oferta, se não nos oferecermos como gente que muda o mundo e cura os medos com beijos e bençãos.

Basta que todos os dias sejam dias de Natal.

Professora Isabel Costa
Amarante, dezembro de 2022