O Dia Nacional da Cultura Científica em Portugal é celebrado a 24 de novembro, em homenagem a Rómulo de Carvalho. O professor de Ciências Físico-Químicas (mais conhecido por António Gedeão, o poeta de “Pedra Filosofal”), é um símbolo inigualável da cultura científica em Portugal. Além de professor de ciências e de poeta, unindo na mesma pessoa duas sensibilidades distintas, foi um notável divulgador científico e um historiador da ciência, da pedagogia e, em geral, da cultura portuguesa. A efeméride, criada em 1996, visa realçar a importância da ciência para a sociedade e promover o conhecimento científico no país.

A evolução do conhecimento científico em Portugal nos últimos 50 anos tem sido profunda e transformadora — tanto em termos de produção científica, como de instituições, políticas públicas e cultura científica. Em meio século, Portugal passou de um país com ciência incipiente para um país de ciência moderna, integrada e reconhecida internacionalmente, embora ainda com desafios estruturais. Todos reconhecemos a importância da literacia científica na capacitação de cidadãos para a compreensão e avaliação crítica de informações e argumentos de natureza científica. Isso é essencial para o pleno exercício da cidadania numa sociedade cada vez mais moldada pelo avanço tecnológico. A cultura científica é um pilar para a melhoria contínua do ensino e para a formação de uma sociedade mais consciente, participativa e capaz de enfrentar os desafios da atualidade e do futuro.

Neste Dia Nacional da Cultura Científica relembramos o vasto legado da inspiradora Jane Goodall, que nos deixou um legado multifacetado para a ciência, incluindo a revolução na primatologia com a descoberta do uso de ferramentas por chimpanzés e a observação dos seus complexos comportamentos sociais e emocionais. A sua abordagem ética demonstrou a senciência, desafiando as normas científicas da época e abrindo caminho para o movimento pelos direitos dos animais. Além disso, foi uma defensora incansável da conservação ambiental. Do mesmo modo, a 06 de novembro assinalou-se a perda de James Watson, uma figura incontornável, que desenvolveu um trabalho crucial na descoberta da estrutura do ADN, o que lhe valeu o Prémio Nobel da Fisiologia e da Medicina em 1962. Watson baseou-se na famosa “Fotografia 51”, fruto da investigação de Rosalind Franklin, que mostrava uma estrutura helicoidal, sugerindo que o ADN teria a forma de uma dupla hélice. Descobertas que foram determinantes para o rumo da Ciência tal como a conhecemos hoje.

Cientistas nacionais da contemporaneidade como Maria Manuel Mota, Nuno Maulide ou Carlos Fiolhais, ajudam a desmistificar a ciência ao humanizar a profissão, partilhando as suas jornadas e promovendo a representatividade para mostrar que qualquer jovem pode pertencer a este campo. Através de uma comunicação envolvente e acessível – quer seja em palestras, redes sociais ou programas de mentoria – estes cientistas transformam descobertas complexas em histórias fascinantes, demonstrando o processo criativo da investigação e, mais importante, evidenciando o propósito e o impacto do seu trabalho na resolução de desafios globais.

A sociedade moderna ainda enfrenta desafios, como a pseudociência e o negacionismo, que são obstáculos críticos à literacia científica e à tomada de decisão informada, funcionando como polos opostos, mas frequentemente interligados. A pseudociência apresenta alegações e crenças como se fossem científicas, usando jargão técnico, mas falha em aplicar o rigor do método científico, como a testabilidade, a revisibilidade por pares e a replicabilidade (como a astrologia ou algumas terapias alternativas não comprovadas). Por outro lado, o negacionismo representa uma atitude de rejeição deliberada de factos e consensos científicos bem estabelecidos (como as alterações climáticas e a segurança das vacinas), muitas vezes motivada por interesses ideológicos, e que se baseia em falácias lógicas, descontextualização de dados ou apelos de autoridades não especializadas.

No Colégio de S. Gonçalo, há muitos anos que promovemos a cultura científica e a literacia nas ciências com uma abordagem “Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente” (CTSA), um paradigma educativo que integra o conhecimento científico com as implicações sociais, éticas e ambientais da tecnologia. O nosso Projeto Educativo debruça-se na formação de cidadãos críticos e reflexivos sobre como a ciência e a tecnologia afetam as suas vidas e o planeta, incentivando uma análise das suas consequências e da sua utilização responsável num mundo comum, numa aldeia global de “Ciência, Arte e Virtude”.

Prof. Maria João Lopes