Porventura alguém se lembra que é Natal?
Alguém se recorda do ultraje
das noites idas, da amnésia universal?
Alguém se ergue a olhar as estrelas,
a acender cores, pavios, velas,
pelas mil almas exauridas,
por pensar apenas nelas?
Alguém vota a eutanásia
da iluminação imoral?
Porventura alguém sabe das partidas?
Alguém despe o rico traje
do seu dia, das suas lidas,
pelos olhares de escasso colo?
Pois se a fome se alimenta
e se rega a boca sedenta,
se se enterram bombas no solo,
também se oferta um regaço,
também se resgatam vidas.
Porventura alguém ouve o estilhaço
do corpo partido, do lamento
sumido num choro de criança,
contido na tremura de um velho?
Alguém ampara o que cansa,
o que faz falta, o que é lasso?
Alguém sonha por um momento
e dita um verso de esperança,
palavra escrita, Evangelho?
Profª. Isabel Costa
Amarante, dezembro de 2022