Como «Em qualquer aventura, / o que importa é partir, / não é chegar» – afirma o célebre e telúrico poeta transmontano, Miguel Torga. Contudo, precisamos de fazer um balanço para preparar melhor o próximo ano escolar. Quanto aos desafios educativos que teremos de desbravar, são as competências da leitura, facto cada vez mais proferido e provado cientificamente quer através da avaliação interna e externa, quer através de estudos nacionais e internacionais que vieram a revelar uma quebra significativa nesse domínio por parte das nossas crianças e dos nossos jovens. Nos dados mais recentes do PISA 2022 (Programme for International Student Assessment), que avalia alunos de 15 anos, Portugal registou uma quebra de 15 pontos face a 2018, ficando abaixo da média da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico), com 38 países membros. Já no PIRLS 2021 (Progress in International Reading Literacy Study), que avalia alunos do 4.º ano, cerca de 25 % dos estudantes portugueses apresentaram níveis baixos de desempenho em compreensão leitora, revelando uma tendência preocupante. Embora os resultados dos nossos alunos nas provas finais de Português e de Matemática do 9.º ano tenham sido considerados bons, a leitura e a educação literária mantêm-se como áreas particularmente frágeis.
Vozes de especialistas da educação, da neurociência, da psicologia, da psiquiatria se elevam para interpelar a sociedade quanto à necessidade urgente de reverter esta situação. De facto, uma sociedade, cada vez mais voltada para as tecnologias tão poderosas na sedução e no ludibriar do ser humano, que acaba por desprezar livros e leitura, uma das poucas ferramentas reconhecidas para manter ou reforçar o poder cognitivo do ser humano, independentemente da sua idade. Seria, pois, importante que em tempos de pausa/férias, pais e jovens e crianças se lançassem nesta aventura: esquecer as tecnologias e dedicar mais tempo à descoberta do «Eu» e do mundo, através do diálogo, olhos nos olhos, em contacto com a Natureza, saboreando-a, como nos convida o Mestre Caeiro nos seus versos, e com os livros, que, afinal, continuam a ser os nossos melhores amigos. Só, assim, poderemos reencontrar, no início do próximo ano letivo, crianças e jovens dispostos a conquistar o saber e o fazer em prol de um futuro mais risonho. Como inspiração, sugerimos o pequeno filme “Bridges”, criado pelo Colégio no âmbito do projeto ERASMUS+, disponível aqui, que nos convida a refletir sobre as pontes que criamos entre gerações, culturas e aprendizagens, tendo como cenários Amarante e Praga, e com muita pesquisa literária na conceção do guião.
Desejamos, assim, a toda a comunidade educativa umas férias salutares, com tempo para descansar, refletir e, sobretudo, para ler. Em breve, estaremos prontos para continuar essa travessia: as aulas começam a 09 de setembro para os 1.º, 5.º e 10.º anos, e a 10 de setembro para os restantes. Até já!